Resumo do episódio
Falar de racismo é delicado, especialmente quando esse lugar de fala não é nosso. É uma questão antiga que ainda hoje precisa ser discutida, pois não a superamos. Com os últimos acontecimentos no Brasil e no mundo, os movimentos antirracistas tem ganhado destaque. Nesse contexto, e pensando em como essa questão está ligada ao empreendedorismo no Brasil, pedimos ajuda ao Felipe Barcellos, diretor, roteirista, jornalista e professor, e à Gerusa Gama, empreendedora da moda íntima. Neste episódio, eles nos ajudam a entender o contexto do profissional e do empreendedor preto no Brasil, quais são os seus maiores desafios, o que é racismo estrutural e o que podemos esperar do futuro a partir dos movimentos atuais.
Empreendedorismo por necessidade
Empreender no Brasil não é fácil e isso não é novidade. Nosso país reúne vários fatores desestimulantes, como a complicada burocracia, as elevadas taxas de impostos e até as lacunas na nossa educação. Para os pretos empreendedores as dificuldades são ainda maiores. Geralmente, os negócios desse empreendedor são de baixa rentabilidade, reflexo do ambiente social em que a população preta está inserida. A maioria deles empreende por necessidade, não por conta de um grande sonho. Sem acesso à ocupação formal, começam um pequeno negócio para gerar renda rapidamente.
Felipe nos mostra um retrato muito comum na realidade: o do jovem preto brasileiro de família de baixa renda, que não tem espaço para escolher a carreira que o deixaria realizado profissionalmente. Seus sonhos não são incentivados simplesmente porque não se tem tempo a perder. A família precisa que ele ajude a trazer o sustento pra casa. Esse jovem acaba sendo ensinado a ser mais uma pessoa pra contribuir na renda familiar, e não um indivíduo capaz de desempenhar qualquer papel na sociedade, em qualquer campo do conhecimento.
As superações
Alguns jovens conseguem quebrar esse ciclo, priorizando seu desenvolvimento pessoal e sua educação, por exemplo. Ampliam-se suas possibilidades, conhecem outras formas de organizar a própria vida. Tudo isso vai ser muito importante para melhorar a situação da família e construir um futuro melhor. É o caso da Gerusa que, com o apoio da família, fez faculdade de moda e trabalhou em várias empresas em altos cargos hierárquicos. Claro que isso não quer dizer que não sofreu com o racismo, mas ela dá um show o enfrentando através da sua empresa de moda íntima.
Ela conta que no início teve que ser criativa para empreender com poucos recursos financeiros. Mas para quem foi educada acreditando que podia ocupar qualquer espaço, é claro que esse obstáculo foi superado. Hoje sua empresa, a MAPA LINGERIE (@mapalingerie), contribui para ressignificar o mercado da moda por meio da representatividade. Gerusa conseguiu incorporar ao seu negócio militâncias sutis que têm ajudado cada vez mais mulheres a se sentirem empoderadas e donas de si, como as modelos pretas que escolhe para representar seus produtos, além de todas as mulheres pretas que se enxergam representadas na sua marca. Ou seja, além de vender roupas íntimas para pessoas de todos os tons de pele e corpo, Gerusa reforça a voz e abre espaço às pessoas pretas em um meio que ainda é muito branco. Legal, né? O difícil de aceitar é que casos bem sucedidos como o da Gerusa ainda são exceção, por isso a luta não pode parar até que isso seja algo comum!
Racismo estrutural
Vivemos em uma sociedade em que o racismo é estrutural, ele está tão enraizado que aparece nas coisas mais sutis, como na forma em que as pessoas pretas aparecem nas campanhas de publicidade, por exemplo, quando aparecem. E o problema não pára por aí, muitas empresas fazem essas campanhas, preenchem algumas vagas com colaboradores pretos, mas continuam com as mesmas práticas preconceituosas no dia a dia, como diferenças salariais entre pretos e brancos no mesmo cargo, por exemplo. Os empresários precisam fazer com que a presença do preto ali seja genuína e sincera. Nossos convidados alertam como é doloroso ser discriminado, ainda mais em silêncio. Muitos profissionais se calam diante dessa dor, com medo de perderem o emprego. Mas falar é fundamental e é obrigação das empresas criarem um ambiente seguro para que as pessoas se sintam confortáveis para isso.
Outro ponto importante é a representatividade. É preciso mostrar as pessoas pretas que conseguiram se destacar, se fazer respeitar, para empoderar outras pessoas, para que elas vejam e saibam que é possível, que são capazes. Felipe trouxe o exemplo da Raquel Maia, mulher, preta e uma das CEOs mais influentes do Brasil, tendo estado à frente da Pandora e hoje da Lacoste no país. A sociedade têm que reconhecer que a capacidade intelectual e cognitiva de pretos e brancos é absolutamente a mesma. É preciso sim, por conta de séculos de desigualdade, dar apoio nos negócios, na educação, pra ter equidade. Precisamos de um esforço enquanto sociedade para reparar esse erro e fazer com que as pessoas pretas mais jovens cheguem numa outra faixa de renda, façam uma transição social. O racismo provavelmente não vai acabar, mas elas vão enfrentá-lo de outro lugar, com mais recursos.
Protagonismo
Com todos esses movimentos antirracistas atuais, temos que ter cuidado para não cair em algumas armadilhas. O protagonismo deveria ser preto, não branco. A posição de fala é do preto. Quando se trata de minorias, elas devem ser ouvidas, elas é que devem liderar e protagonizar o momento. Devemos tomar cuidado com o papel tão frequente do branco salvador. E nossos convidados aconselham: pretos, falem das suas dores, elas são presentes, reais, machucam e tolhem sua capacidade de realização pessoal. Levante a cabeça, olhe pra frente!
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O Ato Cast é um podcast produzido por ATOEFEITO (@atoefeito) e WEPOD (@we.pod).
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Gerusa Gama
é formada em moda e tem especializações em Gestão Empresarial, Marketing e Branding. Ela trabalha na área desde 2009 e teve experiências em todos os segmentos da moda: feminina, masculina, infantil, festa, praia, fitness. Hoje tem sua empresa de moda íntima, a MAPA LINGERIE. @gerusagama | @mapalingerie
Felipe Barcellos
é diretor, roteirista, jornalista, professor e criador de conteúdo transmídia. Com 30 anos de experiência em TV aberta e por assinatura, cinema, publicidade, revistas, jornais, mídias digitais, rádio e social media, liderou equipes e criou conteúdo para MTV Brasil, TV Globo, Multishow, Folha de São Paulo, Editora Abril, Red Bull Communications Latin America, Conspiração Filmes, Fashion TV, BBC, entre outros. https://www.linkedin.com/in/felipebcontent
Leonardo Velozo
é um consultor independente que articula conhecimentos em design, código e música para entregar experiências superiores em seus projetos. Facilita grupos em dinâmicas de cocriação, atua como mentor em hackathons e outros processos de open innovation. @oleovelozo | https://www.linkedin.com/in/leonardovelozo/
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